Menu

Importância dos fertilizantes para a agricultura brasileira

Artigo por Prof. Dr. Antonio Carlos Vargas Motta e Prof. Dr. Volnei Pauletti

Este artigo aborda questões agronômicas relacionadas à necessidade de uso de fertilizantes na agricultura brasileira, bastante debatida após a invasão da Ucrânia pela Rússia no mês de fevereiro de 2022. Sua elaboração foi motivada pelas inúmeras matérias publicadas sobre o assunto, a maioria a abordar questões econômicas, estratégicas e de segurança nacional sem uma discussão agronômica detalhada sobre o tema. Afinal, é a Agronomia que trata e é responsável, junto com os produtores rurais, pela recomendação deste insumo vital para o Brasil na produção de alimentos, fibras e combustíveis não fósseis

Para manter altas produtividades de alimentos e fibras é importante que as plantas tenham quantidades adequadas de nutrientes disponíveis. Mas a maioria dos solos cultivados no planeta, e em especial os brasileiros, são pouco férteis e ácidos, ou seja, pobres nestes nutrientes. Caso sejam cultivados da forma como estão, as produtividades seriam muito baixas. A única forma de corrigir estas deficiências e aumentar a oferta dos nutrientes para as plantas é com a aplicação dos fertilizantes, que fornecem nutrientes para que as plantas os absorvam e os utilizem no seu metabolismo.

A crise atual dos fertilizantes destacou a importância do uso destes insumos na manutenção da sustentabilidade da vida moderna, tanto quanto o uso dos computadores, internet e GPS, embora seja uma técnica já centenária. E deve ter um grande impacto na agricultura brasileira, isto porque o país depende da importação de fertilizantes (cerda de 86% do que é consumido). As duas principais razões para esta dependência são que o Brasil se tornou um celeiro mundial de produção de grãos e proteína animal utilizando, em sua maioria, solos extremamente pobres quanto à disponibilidade de nutrientes para as plantas. Mesmo a proteína animal depende da produção das plantas (especialmente milho e soja) que são usadas na alimentação dos animais. E há clima, topografia e características físicas do solo favoráveis no Brasil, o que o torna um dos poucos países que conseguem fazer 2 até 3 safras agrícolas em um mesmo ano e na mesma área.

Foto: Navio carregado de fertilizante e pronto para descarregar em porto brasileiro (Arquivo pessoal)

No contexto de hoje, a frase “em se plantando tudo dá” de Pero Vaz de Caminha proferida no contexto do século XVI e fazendo referência a uma região especifica do sul da Bahia, não poderia ser extrapolada aos dias atuais ao país continental que é o Brasil, sem algumas adaptações. E a principal delas é que as colheitas sucessivas esgotam os solos sendo necessária a aplicação de fertilizantes para manter e ampliar a produção das plantas. Até ocorrem algumas áreas de solos férteis, com alta disponibilidade de nutrientes, nos estados do Acre, Pará, Paraná e Rio Grande do Sul, por exemplo, mas a grande maioria dos solos brasileiros são deficientes em algum dos nutrientes necessários para o pleno desenvolvimento das plantas.

A agricultura que se praticava, anterior ao uso de fertilizantes, utilizava a queima da vegetação nativa para limpar a área e fornecer os nutrientes para as plantas cultivadas em seguida. Mas esta adição serve por apenas alguns anos, caso o solo não tenha uma reserva significativa de nutrientes. Por isso é que depois de alguns cultivos, há a necessidade de repouso da terra por longos períodos.

Regiões de solos extremamente pobres, como o cerrado brasileiro, são hoje grandes responsáveis pelo Brasil ser um dos celeiros do planeta. Principalmente porque se viabilizou a produção de grãos com o fornecimento de nutrientes através da calagem e fertilizantes. Até poucos anos o Paraná era o principal estado produtor de grãos do Brasil, utilizando solos férteis. Recentemente o estado do Mato Grosso tem esse protagonismo, mesmo tendo na maioria do seu território solos muito pobres. Na Tabela 1 são mostrados exemplos de teores de nutrientes num solo fértil do sul e em solos pobres do cerrado e caatinga do Brasil. A diferença é ainda maior quando se compara a um dos solos mais férteis do planeta que ocorre na Argentina. Logo, para continuar a ser um grande produtor de alimentos, o Brasil depende do uso de fertilizantes. Muito mais que os países com solos naturalmente férteis como a Argentina, Estados Unidos da América e Ucrânia.

Tabela 1. Valores de pH, carbono e nutrientes na camada superficial de solos não cultivados do estado do Paraná (floresta), cerrado e caatinga brasileiros, e pampa argentino sem e com cultivo agrícola.

País – Bioma Condição pH Ca Mg K C orgânico Fonte
    H2O ——– cmolc kg-1 ——- %  
Brasil – Floresta Natural 7,1 22,1 5,50 1,00 3,13 Embrapa, 1984
Brasil – Cerrado Natural 4,3 0,20 0,09 0,08 1,28 Lopes e Cox, 1977
Brasil – Caatinga Natural 6,5 0,63 0,18 0,31 0,70 Rozane; Pauletti-

dados não publicados

Argentina – Pampas Natural x 9,86 2,58 1,92 x Rozas et al., 2011 e 2013
Argentina – Pampas Agrícola 6,4 8,69 2,12 1,47 2,50 Rozas et al., 2011 e 2013

 

Mas por que existem solos pobres quimicamente (em quantidade de nutrientes e muito ácidos) e outros muito férteis? Primeiramente, é importante lembrar que os solos são formados, com algumas exceções, a partir das rochas que se encontram abaixo deles. Se a rocha for composta por altos teores de nutrientes, o mesmo irá acontecer com o solo formado sobre esta rocha. Estamos acostumados a dizer que o Brasil é privilegiado por não ter terremotos e vulcões, mas, são estas forças que fazem com que tenhamos renovação em grande escala dos solos no planeta. Foi um evento de abertura de uma fenda a milhões de anos que fez com que houvesse um derrame de lava vulcânica, em sua maioria rica quimicamente, que permitiu a formação de solos férteis no sul e sudeste do Brasil e Argentina. Mas, a grande maioria dos solos do Brasil foi formada a partir de rochas sedimentares, pobres quimicamente. Além disso, por ser uma região tropical com elevada quantidade de chuvas e altas temperaturas, estes solos foram, por milhares de anos e continuam a ser expostos a reações químicas naturais que alteram a rocha e o solo e proporcionam a lavagem e perdas de nutrientes para as camadas mais profundas (lixiviação). Na Agronomia e Geologia, chamamos este processo de intemperismo. Um ponto positivo é que nestas condições, são geralmente formandos solos profundos, com poucas pedras e com relevos menos acidentados, ideais para a mecanização. Uma exceção no Brasil é a região Nordeste onde a falta de água manteve os nutrientes no solo e formou solos férteis quando a rocha é rica. Deste modo, os climas tropicais e subtropicais úmidos, essenciais à agricultura brasileira, são também responsáveis pelo surgimento de solos pobres quimicamente (ácidos e pobres em nutrientes), ao longo de milhões de anos. Além disso, o alumínio (Al) que é um elemento tóxico, é liberado dos minerais do solo com o processo de acidificação, e pode diminuir o crescimento das raízes e da planta como um todo.

Portanto, no Brasil ocorre um vasto território com condições climáticas e topografia (relevo) muito favoráveis para mecanização e produção de alimentos em larga escala, mas muito pobres quimicamente (ácidos, com Al tóxico e com baixos teores de nutrientes).

Todas as plantas precisam de 17 elementos químicos, os chamados nutrientes, para o seu desenvolvimento. Destes, 14 vem do solo (nitrogênio – N, fósforo – P, potássio – K, cálcio – Ca, magnésio – Mg, enxofre – S, ferro – Fe, cobre – Cu, manganês – Mn, zinco – Zn, boro – B, molibdênio – Mo, cloro – Cl e níquel – Ni) e três (carbono –C, hidrogênio – H e oxigênio – O) do ar ou da água. Mas não precisamos aplicar todos estes nutrientes através dos fertilizantes. Mesmo em solos muito intemperizados e de baixa fertilidade como os brasileiros, elementos como Fe, Mn, Cu, Ni e Cl normalmente estão disponíveis em quantidades adequadas para as plantas e, por isso, não são aplicados. Em geral, os nutrientes S, Zn, B e Mo são aplicados em culturas exigentes e em regiões onde a análise de solo e sintomas nas plantas indicam sua carência. Os nutrientes N, P e K, por serem exigidos em maior quantidade e bastante deficientes no solo, são amplamente e anualmente aplicados. Para o suprimento de Ca e Mg, são utilizados calcários (carbonatos de Ca e Mg) que além de suprir os mesmos servem para corrigir a acidez do solo e, ao elevar o pH, diminuir ou anular completamente a toxidez por Al.

Uma tecnologia que reduz a necessidade de aplicação de fertilizantes é o uso de microorganismos associados às plantas. Esta técnica é muito utilizada em leguminosas, como a soja, que é a principal espécie cultivada em área no Brasil. Em uma simbiose com bactérias, as plantas fornecem açúcares produzidos nos seus tecidos como resultado da fotossíntese em troca de N que a bactéria consegue retirar do ar. O ar que respiramos tem 78% de N, mas as plantas e animais não conseguem absorver e aproveitar. A bactéria faz a transformação do N que está no ar (N2) e transfere para a planta numa forma possível de utilizar no metabolismo vegetal (NH3). Esta simbiose permite eliminar totalmente a necessidade de utilização de fertilizantes nitrogenados (ureia, por exemplo) na soja. Pesquisas brasileiras nesta área, tem selecionado microrganismos mais eficientes na fixação de N, que são comercializados em produtos chamados inoculantes e que o produtor aplica nas sementes antes de levá-las a campo.

Considerando que podem haver períodos de preços altos ou escassez de fertilizantes, a pergunta que fica é: podemos criar uma reserva dos nutrientes no próprio solo quando as condições forem mais favoráveis, e utilizar esta reserva nas épocas adversas como a crise atual? Para os nutrientes P, Zn e Cu podemos aplicar no solo e criar um estoque tão elevado quanto a de um solo fértil ou pouco intemperizado. Os agricultores do cerrado que iniciaram o cultivo em solos muito pobres em P e Zn, hoje tem níveis de médio a alto, em função da aplicação de doses altas por longo tempo. Estes elementos são muito pouco lixiviados (lavados do solo) e permanecem no solo. Nestes casos, a aplicação de Zn não se faz necessária e a adubação com P pode ser reduzida ou mesmo deixar de ser aplicada por dois ou três anos sem que haja um grande comprometimento da produtividade. Ou seja, o produtor fez uma “poupança” ao aplicar estes nutrientes e pode agora usufruir. No caso do Ca e Mg, as aplicações são feitas através dos calcários, aumentando o teor no solo que pode durar de 5 (cinco) a mais de 10 anos. Entretanto para o N e para o K que são os dois nutrientes absorvidos em maior quantidade pelas plantas, existe menor possibilidade de se criar uma reserva. O produtor pode elevar os níveis de K no solo com uso da adubação, mas em função de sua elevada exigência e possibilidade de perdas por lixiviação, em um prazo de um a dois anos já pode iniciar o comprometimento da produtividade. Portanto, o produtor que vem adubando regulamente a lavoura com K e, de modo adequado, criou uma reserva de curto prazo. A situação do N é bem mais complicada. Não é possível criar uma reserva no solo pois quando se aplicam doses superiores ao absorvido pelas plantas para que ocorra o aumento do teor no solo, o excesso é perdido por lixiviação e outras reações de um ano para o outro. Este nutriente deve ser aplicado em todas as safras para que não haja decréscimo na produtividade e deve ser prioridade do produtor de milho e outros cereais. Felizmente, não é o caso da soja devido à simbiose com bactérias, como indicado acima.

Portanto, deve ser considerado que mais cedo ou mais tarde será preciso aplicar fertilizantes e calcários nas lavouras. Com exceção dos casos em que a simbiose com microorganismos consegue suprir as plantas com N, os demais nutrientes devem ser aplicados se quisermos manter ou aumentar a produtividade das lavouras. É preciso no mínimo devolver ao solo os nutrientes que foram retirados com a colheita, o que chamamos de exportação de nutrientes. Se isso não for feito, ocorre o esgotamento da reserva do solo e a produtividade diminui. Por exemplo, a colheita de apenas uma tonelada de toras de eucalipto leva embora para a indústria, 0,12 kg de P e 1,0 kg de K. No caso da banana, uma tonelada de frutos que sai da lavoura e vai para a prateleira dos mercados ou feiras, leva consigo 0,38 kg de P e 6,4 kg de K. No caso da soja, para cada tonelada de grãos colhida, são retirados 4,6 kg de P e 14 kg de K. E assim por diante. Então estas quantidades multiplicadas pela produtividade são o mínimo que deve ser reposto ao solo com a aplicação de fertilizantes. Este é o princípio da reposição dos nutrientes exportados da lavoura, e quanto maior a produtividade, mais nutriente deve ser aplicado.

Uma situação da falta de fertilizantes é grave e deve atingir com maior intensidade e mais rapidamente os produtores que não mantiveram a fertilidade do solo de modo regular e em níveis adequados. Áreas novas e de baixa fertilidade vão sofrer mais com a falta de fertilizantes. Para as áreas de alta fertilidade este pode ser o momento em que os produtores podem utilizar a poupança do solo, mas sem esquecer de aplicar adubos nitrogenados.

O Brasil tem solos ácidos e pobres em nutrientes. Mas existem no país reservas minerais ou produção de fertilizantes para corrigir estes problemas? Felizmente temos no território nacional muito calcário para corrigir a acidez do solo e fornecer Ca e Mg e de fácil extração, o que torna o preço acessível aos produtores. Infelizmente não podemos dizer o mesmo para P e K de forma direta e N de forma indireta. As reservas mundiais de P tem estimativa de duração de até 200 anos e para K até 600 anos. As reservas brasileiras representam menos de 5 % deste total para ambos os nutrientes. Em função das baixas reservas e falta de investimento, nosso país importa aproximadamente 54% do P, 97% do N e 96% do K que utiliza em suas lavouras. Do leste europeu, região da invasão da Ucrânia pela Rússia, vem 25% desta importação.

Foto: Fertilizante potássico (KCl)

As reservas de P brasileiras são em geral de baixa qualidade comparativamente às encontradas em outras regiões como as do Marrocos. No caso do K, recentemente foi divulgado uma jazida de minério estimada em 3,2 bilhões de toneladas, na divisa entre os estados do Amazonas e Pará. Caso fossem exploradas, o Brasil passaria da situação de maior importador para um dos maiores exportadores do produto. Mas estas reservas de K estão em sua maior parte em áreas de infraestrutura deficitária na região amazônica e demanda amplos estudos ambientais e investimentos. Já o N está acessível em todos os lugares na forma de N2 (78% do ar é N2), mas para ser utilizado tem que ser combinado inicialmente com H formando amônia (NH3), requerendo grande quantidade de energia e gás natural. Ou seja, o custo da energia é o fator limitante na obtenção dos adubos com N. Logo, o Brasil que é um país continental e quer se manter como um grande produtor mundial a partir de solos pobres, não tem reservas significativas de fontes de nutrientes para as plantas que são os fertilizantes. Este cenário merece muita reflexão e planejamento para que sejam adotadas medidas que resultem em maior segurança à produção de alimentos e fibras a longo prazo.

A utilização de adubos orgânicos, como os estercos de frango, suínos e bovinos, poderia substituir totalmente os adubos minerais? A resposta é não. Os adubos orgânicos contêm os nutrientes que estavam na ração, composta principalmente por produtos vindos da lavoura, como milho e soja.  A aplicação no solo destes produtos simplesmente retorna os nutrientes retirados do próprio solo. Não é possível substituir totalmente os adubos minerais pois ocorrem perdas e porque a carne ou leite contém nutrientes que foram retirados da ração, e serão exportados da propriedade.

Rochas ricas em nutrientes poderiam ser moídas e usadas como fertilizante? Duas condições são necessárias para uso de qualquer produto como fonte de nutrientes, ou seja, como fertilizante: elevada concentração de algum nutriente e liberação rápida do mesmo para que a planta possa absorver. Por exemplo, o calcário é uma rocha moída que tem elevada concentração de Ca e Mg e que quando moída reage em três meses no solo, libera os nutrientes para a solução do solo, de onde a planta consegue absorvê-los. Quase todos os fosfatos que ocorrem no Brasil, se forem apenas moídos e aplicados ao solo, quase não reagem no período de vários anos ou décadas, enquanto um fosfato vindo do Marrocos reage em grande parte em dois a três anos. O primeiro, se aplicado apenas moído e sem sua solubilização industrial, não fornece o nutriente para as plantas em curto prazo, sendo de nenhuma ou pouca eficiência. O basalto tem menos de 1 % de P e K, e em formas pouco solúveis o que limita em muito a resposta a campo como fonte de nutrientes. É importante destacar que as plantas absorvem os nutrientes que estão dissolvidos na solução (água) do solo. Por isso, todo produto aplicado com função de fornecer nutrientes para as plantas deve liberar o nutriente para a solução do solo, caso contrário, não será eficiente.

É possível que alguns pensem que o uso de fertilizante mineral pode ser prejudicial ao solo. Existem áreas no planeta que vem recebendo fertilizante a mais de um século sem que isso ocorra. Contudo, tanto o uso de fertilizante mineral quanto o orgânico, feitos de modo indiscriminado, são bastante daninhos. É importante regular a quantidade aplicada de fertilizante, tanto o mineral quanto o orgânico, de acordo com a demanda das plantas. Quando aplicados corretamente não apenas aumentam a produtividade, mas a qualidade nutricional dos alimentos. Enriquecer os alimentos em nutrientes essenciais aos humanos e animais através da aplicação de fertilizantes, é uma técnica chamada de biofortificação agronômica. Neste caso se aplicam fertilizantes procurando não somente suprir a planta, mas enriquecer o alimento produzido, o que diminui ou elimina a necessidade de suplementação de minerais.

Seria possível retornar os nutrientes extraídos pelas culturas ao solo novamente? Tudo é uma questão de logística. Como colocado anteriormente, parte dos alimentos que produzimos retiram os nutrientes do solo e vai alimentar os animais e dali retornam na forma de adubo orgânico para as lavouras. Contudo, a maior parte dos nutrientes é exportada do campo e transportada para as cidades. Parte é absorvida e permanece nos nossos corpos ou no dos animais, e parte se torna resíduo na forma de lodo de esgoto ou depositado em aterros. Ou seja, os nutrientes transportados na forma de alimentos para as cidades não retornam para o solo de onde foram extraídos, e o ciclo não se completa. Reforçando que não são só as plantas, mas, carne, fibras, carvão e bebidas (café, chá) são resultado de alguma produção agropecuária que utiliza os nutrientes absorvidos dos solos e que, portanto, não retornam aos solos. Podemos ampliar este raciocínio considerando os alimentos que são exportados do Brasil para os mais de 150 países mundo afora. Podemos então concluir que o solo exporta nutrientes via alimentos e recebe nutrientes via fertilizante, principalmente os minerais. Sem esta contribuição dos fertilizantes, haveria o rápido esgotamento dos solos.

Percebe-se, assim, que a quantidade de fertilizante a ser aplicada em cada área depende do balanço entre entrada e saída de nutrientes da área que está sendo cultivada.  Espécies bem estudadas e tecnificadas como soja, milho, café, citros e cana-de-açúcar, geralmente tem doses bem estabelecidas e recebem fertilizações regularmente. Por outro lado, algumas de grande valor econômico e área no Brasil recebem pouca atenção, como é o caso das pastagens. Cerca de 170 milhões de hectares do Brasil são ocupados com pastagens (2/3 da área total cultivada) e menos de 2% destas áreas recebem fertilização. É principalmente por isso que a produtividade do nosso rebanho de corte é muito baixa, apesar do grande investimento em genética e manejo dos animais. Estudos da UFPR (projeto NITA) demonstram que no sistema integração-lavoura-pecuária-floresta é possível obter produtividades 3 a 4 vezes maiores do rebanho de corte em área adubada. Outras espécies como a erva mate de caráter extrativista e o pinus começam a mostrar esgotamento do solo e baixa produtividade pela falta de fertilização. Deste modo, a fertilização é uma excelente ferramenta para poupar florestas e áreas nativas. Mas também existem cultivos de elevado valor econômico onde são aplicadas altas doses de fertilizantes e que vem mostrando sinais de acúmulo demasiado de nutrientes, como tabaco, algodão, batata e hortaliças em geral. Novamente, não importa se o fertilizante utilizado for mineral ou orgânico, a questão é a dose aplicada, pois tanto o excesso quanto a falta de nutrientes são preocupações da classe produtora e técnica.

Os motivos apontados neste texto é que tornam o Brasil o quarto maior consumidor de fertilizantes do planeta. E o país que mais aumenta anualmente o consumo, com crescimento médio anual nos últimos anos (2015 a 2020) de aproximadamente 6,2%. A expectativa é que esta tendência de aumento continue, devido às maiores produtividades e incorporação de áreas de pastagens à produção de grãos. Mesmo assim, a dose dos nutrientes N-P-K aplicada por área cultivada no Brasil é menos da metade da aplicada na China e muitos outros países europeus, por exemplo.

Conclusão: O Brasil é o único grande produtor mundial de alimentos que teve que utilizar solo de muito baixa fertilidade (ácidos, com muito Al tóxico e baixo teor de nutrientes) e sem reservas minerais para produzir fertilizantes em larga escala. Foi necessário construir a fertilidade do solo corrigindo a acidez e disponibilizando nutrientes em grandes áreas com uso de corretivos e fertilizantes. Felizmente, há abundância de corretivos da acidez no país, mas o mesmo não acontece com matéria prima para produção de fertilizantes. A ausência de investimentos na produção de adubos nitrogenados, nos torna dependentes da importação. As perdas naturais e a exportação de nutrientes do campo para as cidades ou para outros países, sem que haja retorno ao campo, impõe a necessidade de manutenção da aplicação de fertilizantes, sem a qual haveria o esgotamento do solo comprometendo a produção. No contexto de solo de baixa fertilidade a aplicação de nutrientes pode promover um grande aumento não apenas na produtividade, mas também no valor nutricional dos alimentos. Isso faz que com que sejam necessárias áreas menores para atender a população em produção de alimentos.

Referências bibliográficas consultadas

Abram, M. B. (2016). Fosfato no Brasil. Recursos Minerais no Brasil, p. 96-116.

Bellieni, G., Comin-Chiaramonti, P., Marques, L. S., Melfi, A. J., Piccirillo, E. M., Nardy, A. J. R., & Roisenberg, A. (1984). High-and low-TiO2 flood basalts from the Paraná plateau (Brazil): petrology and geochemical aspects bearing on their mantle origin. Neues Jahrbuch für Mineralogie Abhandlungen, 150(3), 273-306.

Camargo, M. S. D. (1997). Solubilidade e disponibilidade do fósforo de fosfatos naturais com origens geológicas diferente. (Tese doutorado, Universidade de São Paulo).

Embrapa. Levantamento de reconhecimento dos solos do estado do Paraná. Londrina: Serviço nacional de levantamento de solos, 1984. (Boletim Técnico No 57 – Tomo II). p. 572. (B)

Kulaif, Y. & Góes, A. M. (2016) Potássio no Brasil. Recursos Minerais no Brasil: problemas e desafios. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências, p. 84-95.

Kumssa, D. B., Joy, E. J., Ander, E. L., Watts, M. J., Young, S. D., Walker, S., & Broadley, M. R. (2015). Dietary calcium and zinc deficiency risks are decreasing but remain prevalent. Scientific reports, 5(1), 1-11. Fixen, P. E.

Lopes, A. S., & Cox, F. R. (1977). A survey of the fertility status of surface soils under “Cerrado” vegetation in Brazil. Soil Science Society of America Journal41(4), 742-747.

Melfi, A. J., Misi, A., Campos, D. D. A., & Cordani, U. G. (organizadores) (2016). Recursos Minerais no Brasil: problemas e desafios. Rio de Janeiro/RJ: Academia Brasileira de Ciências. 420.

NEPAR (2019), Manual de adubação e calagem para o estado do Paraná. 2. Ed. 2019. 289 p.

Pereira, A. C., Gomes, M. R., & Rocha, S. D. (2019). Glauconita como fonte alternativa de potássio para produção de fertilizante de liberação lenta. Geonomos, 32-37.

Reservas mundiais de nutrientes dos fertilizantes. Informações Agronômicas, 2009 No.126 pp.8-14.

Rozas, H. S., Eyherabide, M., Echeverría, H. E., Barbieri, P., Angelini, H., Larrea, G. E., … & Barraco, M. (2013). ¿Cuál es el estado de la fertilidad de los suelos argentinos?. In Simposio Fertilidad Nutricio´n de cultivos para la intensificacio´n productiva sustentable. 2013. IPNI Cono Sur-Fertilizar, Rosario, Argentina.

Rozas, H.S; Echeverría, H.E., & H.P. Angelini. H.P. (2011). Niveles de materia orgánica y pH en suelos agrícolas de la región pampeana y extrapampeanas Argentina. Informaciones Agronómicas. 2: 1-7

Safatle, F. A. (2018). Solubilização de potássio durante lixiviação ácida e básica de siltitos verdes em reatores pressurizados. 90 pag. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Uberlândia

Schimicoscki, R. S., Oliveira, K. D., & Ávila-Neto, C. N. (2020). Potassium recovery from a Brazilian glauconitic siltstone via reaction with sulfuric acid in hydrothermal conditions. Hydrometallurgy191, 105251.

USGS (United States Geological Survey). (2020). Mineral Commodity Summaries 2020: U. S. Geological Survey, 200 p. https://doi.org/10.3133/mcs2020.

 

Redes Sociais

UFPR no Facebook UFPR no Twitter UFPR no Youtube
Universidade Federal do Paraná
Setor de Ciências Agrárias
Rua dos Funcionários, 1540 - Juvevê
Fone: +55(41) 3350-5620/5800
Curitiba (PR), Brasil

UFPR no Facebook UFPR no Twitter UFPR no Youtube
Setor de Setor de Ciências Agrárias
Rua dos Funcionários, 1540 - Juvevê
Fone: +55(41) 3350-5620/5800
Curitiba (PR), Brasil

Imagem logomarca da UFPR

©2024 - Universidade Federal do Paraná - Setor de Ciências Agrárias

Desenvolvido em Software Livre e hospedado pelo Centro de Computação Eletrônica da UFPR